quarta-feira, 25 de junho de 2008

O medo de João

O maior medo de João era o escuro. O escuro imprevisível que tornava todos invisíveis. No escuro João não se encontrava. Esbarrava em pontas agudas enquanto feria seu corpo. Ouvia no fundo de algum lugar que não conhecia um eco esquisito e desconfortável. A temperatura no buraco negro é fria. Não sobe. Ninguém se mexe e ninguém se aquece. O escuro bloqueia, paralisa, emudece. Todos ficam quietos para ouvir. - Ouvir o quê? pensa João. Ouvir o primeiro corajoso a dizer “Estou aqui! No canto esquerdo perto da porta de saída”. Porém ninguém diz. Ninguém fala. Ou se esquece de falar. Ficar quieto sem ser encontrado em lugar algum talvez seja mais cômodo do que ser cutucado por um estranho no meio do caminho. E também ninguém se move. Estátuas humanas em meio a um espaço gigantesco a ser explorado. Espaço à principio que João talvez nunca conheça. Pois para falar em meio à escuridão, João precisa ser ouvido. E para ouvir, o que ele mais necessita é de um som, por mais distante que inicialmente possa soar. João só precisa que alguém diga: - Dá pra acender a porra da luz, por favor!

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