quarta-feira, 27 de agosto de 2008

_Perdidos no vácuo.

Dos sapatos úmidos, esvaziei o teu cheiro.
Dos cadarços embaralhados, desatei meu passado.
Sólo murcho e movediço que me sustenta. Me leva pra onde? Qualquer lugar que seja.
Tirei do bolso as chaves sem segredos. Lacrei com força os meus armários e gavetas. Expulsei do peito teus demônios sem cabeças.

Chova sapos ou canivetes. Pouco me importa o que cai lá fora. Nuvens carregadas de pesadelos. Sombras sem preto, luzes sem foco, escuro sem medo.
Rasguei tuas fotos, cartas e presentes. Botei o mundo na balança do açougue da esquina perdida, e de repente me dei conta de que você é apenas mais um peso morto, solto no vácuo desse planeta cinza.

sábado, 16 de agosto de 2008

_Do que um dia fiz por ti.

Quando olho para dentro, vejo sangue cor de vinho.
Corto com os vidros do espelho o teu discreto rosto cínico.
Acho bom rezar bem alto para ver se alguém te escuta.
Pois não há cruz no mundo que cale baixo a tua culpa.

Se o dia não foi bom.

Se o amor não foi achado.

E um céu sem infinito, com um sol desaquecido.

Corra para bem longe e esqueça teu destino. Deixe mãe, pai e filho, e só escute o teu umbigo.
Dentro de mim não cabe mais amor e ódio doentio. Tua voz não me traz paz, o teu rosto, arrepio.
Exploda, morra, seque em qualquer terreno vazio. Chore, sofra, quebre. Não faça nada diferente do que um dia fiz por ti.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

_entre nós dois.

Da porta fechada, se ouvem risos baixos.

Da gaveta lacrada, o silêncio que perturba.

Das janelas escuras, o olhar por de trás da cortina.

Embaixo da cama, o medo quase invisível.

Sobre as cobertas, o conforto cômodo.


Por de trás dos teus olhos, falsidade a ser explorada.

Entre os teus dentes, o veneno que escorre com direção definida.

Entre tuas pernas, o desejo eterno latente.

Entre eu e você, além de papéis, pedras e tesouras,

mora a infinita impossibilidade de ser.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

_Mais uma vez.

Senta sossegado aqui no canto e respira fundo. Olha em volta. Nada mudou, viu? Nem eu mesmo mudei. Respira mais um pouco. Inspira profundo. Expira vazio. Sente o alívio? Chore, tema, sofra. Amanhã passa. Se não passar, outro dia passa. Eu sei.

Agora levanta. Vem comigo até a janela. Percebe o calor do sol? Abre a palma da sua mão. Sente a energia? Ela é sua. Somente sua. Agora fecha os dedos bem forte e os abra levemente contra seu peito aberto. Sentiu?

O amor se foi ontem de noite pela porta, ouvi dizer. Mas ele volta em breve, ok? Retorna mais maduro, mais experiente, mais adulto, eu diria. Ele pode vir da casa ao lado, do Rio de Janeiro, do México ou da Groelândia, que seja. Vai saber. Mas o importante é que ele volta. E sua respiração vai voltar naturalmente, como se estivesse em processo de renascimento, e seu sorriso assim como seu choro perderão total sentido. Mas caso o "tal do amor" saia correndo porta a fora novamente, não esqueça que estou aqui, com os lenços secos em mãos, lhe instruindo sem medo como inspirar e expirar novos ares, mais uma vez.

Aos meus amigos que sabem amar.